sábado, 6 de outubro de 2012

Má Companhia, V





Quase ninguém sabia o que fazer. Foi tudo muito rápido.
Enquanto eu pagava o preço do sangue pela morte dos meus inimigos, meus improváveis aliados jogavam com o caos para seu próprio ganho - e o risco era todo meu. Se vencessem, seria pelo meu sofrimento. Mas nada estava muito claro, e eu não pretendia esperar para ver.

Nuvens escuras encobriam minha visão, e a dor se espalhava pelo meu corpo assim como o incêndio se espalhava pela cidade, que àquela altura, queimava há dois dias enchendo o céu com fuligem. De repente me senti fraco, sangrando, uma sombra cambaleante de quem eu já tinha sido - mas quando vi meu próprio sangue vivo, soube que não era um dos mortos.

Eu não morreria naquele dia. Os eleitos do Ceifeiro eram outros.

Pedro finalmente cruzara o limite dos estertores, gemendo e chorando pela dor indizível, até que por fim se afogou no próprio muco, que escorria pela boca numa torrente de agonia. Num instante, os olhos ficaram fixos, e sua jaqueta do exército estava ensopada de babugem e sudorese tóxica. O outro Pedro morreu primeiro, de forma ainda mais miserável.... Pelo menos o Metralha teve uma mulher para chorar por ele - embora não fosse a sua própria. Esta chorava sob o efeito do veneno, e apenas por sua própria desgraça.

Miranda estava chorando, e o Dr. Sérgio a fazia engolir o chá alucinógeno. Aquilo seria algo realmente divertido de se ver, mas a minha visão começou a falhar, de maneira que eu não entendia nada claramente... ela chorava, se contorcia e se mijava, com o muco saindo pela boca. Mas o Dr. Sérgio se empenhava em salvá-la.... e ele FARIA isso, o filho da puta.

Minhas pernas fraquejaram, e então finalmente tombei.

Quando acordei, vi o rosto do Pastor João Paulo me olhando com aqueles olhos que não piscavam. Sua boca se movia, mas eu não era capaz de ouvir uma palavra... mas pude discernir algumas delas pelo movimento dos seus lábios - eles diziam diziam "obrigado" e "lamento". Vários pares de olhos me encaravam, com dolorosa resignação, e então compreendi que seria sacrificado

Os meus braços estavam atados às minhas costas. Frias algemas apertavam os meus pulsos.

O Sargento Torres estava de pé à minha frente. Rodrigo, com seu desgastado uniforme de policial, vinha com a faca Kukri exposta. Eu não era capaz de articular uma fuga, mas TINHA que sobreviver, e se tivesse alguns minutos para pensar, ganharia mais um dia de vida.

    [Conheço um terceiro feitiço: no calor da batalha,
           se tenho grande
necessidade, embotará as lâminas dos inimigos.
          Suas armas não farão nenhum dano;]

[Conheço um quarto:
      Me livrará rapidamente se os inimigos querem 
sujeitar-me rápido com correntes fortes
um encanto que faz com que os grilhões
         saltem dos pés, e as ataduras saiam das mãos;]


__ Seu último pedido e suas últimas palavras, estrangeiro.
__ Quero fumar um cigarro. Um daqueles que está no bolso do defunto.
__ Pega um cigarro pra ele, Wiliam. Deixem esse cretino fumar.

***

__ Está pronto? Tem uma última palavra a dizer?
__ Escorbuto.
__ O quê???
__ Alguns de vocês estão com escorbuto. E eu sei onde encontrar alimentos frescos.

3 comentários:

  1. eu quero maaaaaaaaaaissssss por favorrr

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  2. alimentos frescos... depois de tanto incendio e ocenanos de desmortos?
    uau, nada como uma mentiriunha na hora da morte e uns otarios pra acreditar.

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  3. Ta cada vez mais maneiro. Quando vem o próximo post?

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